Verdadeira arca do tesouro é feito de amigos
Uma índia princesa e uma princesa
caucasiana
Na caixa de memórias esquecidas têm de tudo, recibos, convites, cartões,
cartas de amor... Ahh! As cartas de amor (sussurros), em outro momento falo
sobre elas, afinal, são elas as verdadeiras protagonistas desta história...
ops! spoiler.
No colégio eu tinha muitas amigas, mas sem dúvidas, tinha duas que eram
as melhores do momento. Era uma mistura de amor e competição que até hoje eu
não consigo entender... Era tão legal, me sentia viva. A linda morena de cabelos
escorridos, meio índia meio princesa, porque não princesa índia. Índia era a
sensação da escola, corpinho perfeito crescendo na mais perfeita forma... Inveja,
eu tão gordinha... O nosso passatempo era brincar de comidinha, bonecas e
teatro... Adorava visitar sua casa, porque ela tinha uma coleção infinita de
bonecas que eu queria muito tocar, mas estranhamente ficavam lá no alto, muito
alto, eu nunca ousaria subir em um banco ou na cama para ter nos braços a nova
boneca da estrela. É uma pena! sempre fui uma covarde, mas nossa diversão mesmo
era o teatro, eramos de fato maravilhosas no nosso trabalho, dávamos o sangue
para apresentar uma peça bem feita, eu nem importava que ela era sempre a
princesa, afinal, ela era linda... eu entrava de fato no meu personagem.
Não menos importante, e sempre muito querida, tinha a cachinhos quase
dourados que fazia parte da minha vida como se só existisse uma... (risos,
devaneios). Cachinhos quase dourados era uma garota bochechuda que nem eu acho
que por isso me identificava tanto com ela, aquele cabelo longo, aquela pele
alva, macia, me deixava intrigada, como podia ser tão clara, Meu Deus. Nossos
momentos sempre foram mais educativos, as minhas visitas sempre eram regadas a
interesse mutuo... Hora era para estudar, fazer trabalhos, escrever em
cartolina ( ai ai, que saudade eu tenho, da aurora da minha vida, da minha
infância querida, que os anos não trazem mais), hora para jogar videogame... Quem
nunca! O melhor de ir à casa dela é porque tinha abacate, cajá, goiaba... Era o
pomar dos meus sonhos... Quando minha mãe permitia ir a casa dela, eu seguia
viajem em uma espaçonave turbinada, como chegava rápido, como o portão se abria
gentil, a mãe de cachinhos sempre foi uma linda, gentil, educada, atenciosa, um
amor de pessoa.
Cachinhos é de leão, temperamento forte, combina comigo... nosso
relacionamento sempre foi baseado no temor... ( risos) Ela era tão
"marrenta", que sabia que tinha que pegar leve nas piadas, peças que
pregava nela, mas éramos tão parecidas que eu me via ali... Se me
perguntarem qual o momento mais engraçado da minha vida, sem duvidas ela estará
presente... Era tão brava e ao mesmo tempo tão meiga, que para exteriorizar sua
raiva ela escreveu um palavrão no forro de mesa do alpendre... Eu fiquei
observando aquele palavrão, não tinha permissão pra dizer, também nunca tive
intenção, mas aquela escrita me intrigou, era dela, não só era dela, mas tinha
a assinatura do autor, ou melhor, autora. Fico pensando que SER humano escreve
um palavrão no forro de mesa e assina.
Eu toda curiosa perguntei o que seria e ela furiosa disse o motivo pelo
qual escreveu aquilo, indignação familiar... ok! Eu respeito... Perguntei
também o motivo de ter assinado no local do crime, ela disse que queria que
todos soubessem que foi ela que fez. Justo. Poderia ter acabado ai, se não
fosse o fato da minha querida cachinhos esta dependurada no varal de roupa
colocado dentro da área. Ainda vejo, ela de joelhos no pilar, segurando com as
duas mãos o varal e para piorar (ou melhor, a pior esta por vir) mordendo a
corda com toda força existente naquele pequeno corpo alvo. Distraída com
algumas violetas na mesa, ouvi um barulho ao meu lado, não sei como aconteceu,
apenas olhei para o chão e lá estava ela, toda estatelada no piso vermelho
encerado. Gente! eu não podia rir, lembrem-se o senso de humor dela era
limitado, não sabia o que fazer, acredito ter rido pouco daquele momento, se
fui embora? Possivelmente, seria muito fácil fazer xixi na roupa de tanta graça
que eu senti.
Estar na presença das minhas princesas era como experimentar a vida das
mais variadas formas culturais... Uma me proporcionava às tecnologias a outra
me propiciava desfrutar dos contos de fadas mais lindos.
Engraçado como um convite de casamento, pode me remeter a um passado
tão, tão distante, não era apenas pelo convite, era pela honra de ter
compartilhado tantas experiências boas, durante a infância e isso poder se
estender por muitos e muitos anos. Hoje, depois de doze anos, ainda lembro
perfeitamente daquela menina de cabelinho de pria e daquela menina de pele
alva.
continua...